Tem uma frase comum que se diz
com certa frequência e que é assim: “o que os olhos não veem o coração não
sente”. Pois, por muito tempo, na nossa sociedade, tudo que era tocante ao
coração, que fazia sofrer de alguma forma, nós tratávamos de tirar do alcance
dos olhos. Se lermos a Bíblia, na época de Cristo, isto ocorria com os
leprosos, com os lunáticos, as prostitutas, entre outros. Desde aqueles tempos
os diferentes eram subjugados a um segundo plano, não faziam parte da sociedade
e, como tal, não podiam conviver livremente entre os “bons”.
Muitos séculos se passaram até
termos a esperança de que alguma coisa mudasse, de fato. Na idade moderna
continuamos a excluir os diferentes, os “anormais”, os loucos, os doentes, os
marginais, enfim, todos aqueles que não compartilham do padrão de “cidadão
ideal”. Surgiram os hospícios, os presídios, os hospitais, instituições
totalitárias nas quais o interno não tem poder sobre si mesmo. E, neste
contexto, muitos abusos foram cometidos, muitas crueldades, muita gente morreu
ou foi excluída do convívio do mundo, para sempre.
É recente a luta por mudar esta
crueldade, coisa de algumas poucas décadas. No caso do portador de sofrimento
psíquico, do “louco”, não mais do que uns trinta anos. A Semana da Luta
Antimanicomial, em andamento, é o período do ano em que marcamos esse momento,
o fim da expansão dos manicômios/hospícios, nos quais sumiam as almas daqueles
desafortunados que, por algum motivo, internavam neste lugar. Eletrochoques,
camisas de força, excesso de medicamentos, violação de qualquer direito era a
prática.
Nesta segunda-feira ocorreu um
ato simbólico em Lajeado, no qual usuários dos CAPS, trabalhadores da saúde,
estagiários da Univates, familiares, ocuparam por cerca de meia hora a nossa
Rua Júlio de Castilhos. A intenção não é tumultuar o trânsito. Pelo contrário,
os fiscais do trânsito fizeram um trabalho magnífico e nada de anormal
aconteceu. O objetivo do ato foi colocar à frente dos olhos de todo mundo, para
que o coração se mantenha saudável, se importe, não endureça na indiferença que
ainda campeia por nossos tempos. Alcançamos os objetivos? Sim e não. São tempos
de alegrias, pois muitos aplaudiram. Mas, é também um tempo triste, no qual
muitos viram a cara, não se importam, excluem, subjugam, se aproveitam do
outro. Mas, é tempo de esperanças também, visto que a arte da vida se faz na
vida do portador de sofrimento psíquico e há muitos dispostos a ajudar nesta
tarefa de cada dia.