Esta tarde peguei em meus braços um menino, Gabriel, de
cerca de seis meses. Seus pais são haitianos. Vieram para cá e trabalham numa
das indústrias locais que vêm atraindo mão de obra. Moram precariamente. Seus
conterrâneos se aglomeram em pequenos cômodos, entre muitos. Foram atingidos
pelas cheias do rio Taquari. Estão desabrigados e neste momento estão no
pavilhão, no parque do Imigrante. Cortou-me a alma segurar Gabriel em meus
braços. Olhei em seus olhos de bebê, sob a guarda vigilante de sua mãe. Gabriel
não entende o que acontece. Mas seus pais sim. Têm bolivianos, também. Tem
gente do Bangladesh, pequeno país muito pobre perto da Índia. Lajeado está
multicultural.
Os pais de Gabriel são sobreviventes de um dos maiores
desastres que a humanidade já viveu: um terremoto que matou mais de 200 mil
pessoas e destruiu um país que já era muito pobre. Não há esperanças por lá e
isto faz com que muitos saiam de lá em busca de um sonho. Ganham algo em torno
do salário mínimo aqui e mandam parte do seu salário para sua terra natal, para
matar a fome dos que ficaram. Entre o trabalho árduo, a saudade dos seus, e o
viver em um lugar em que se fala uma língua estranha persistem.
Acompanhei um grupo esta tarde que se preocupava com sua
situação. Flagelados, buscavam saber como fariam, já que não tinham como saber
como fazer para trabalhar na segunda-feira. Perderiam os benefícios? Como se
chega do abrigo até a fábrica? Como compreender o que se explica na língua mal
compreendida?
Vivenciei uma poção de coisas e me emocionei um par de
vezes. Fico pensando na felicidade que é ter uma família e certa estabilidade
na vida. E fico pensando como é dura a vida de Gabriel, que recém nasceu e já
está enfrentando toda sorte de desafios. Ele e seus pais. E todos aqueles que
de alguma forma sobrevivem a cada dia, a cada hora. A próxima refeição é a
conquista máxima... Que Deus ajude Gabriel. Que possamos, de alguma forma,
amparar os bolivianos, bangladeshianos, haitianos, brasileiros, e todos os
seres humanos em risco. Precisamos nos lembrar: nossa missão humana nada mais é
do que promover a vida, acolher aquele que sofre, estender os braços. Me
emocionei com o presente que recebi hoje: um abraço de conforto de Gabriel, nos
seus inocentes seis meses de vida. Me sinto mais humano a partir de hoje, ainda
consigo me emocionar...