domingo, 25 de agosto de 2013

O menino Gabriel e seus olhos negros.

Esta tarde peguei em meus braços um menino, Gabriel, de cerca de seis meses. Seus pais são haitianos. Vieram para cá e trabalham numa das indústrias locais que vêm atraindo mão de obra. Moram precariamente. Seus conterrâneos se aglomeram em pequenos cômodos, entre muitos. Foram atingidos pelas cheias do rio Taquari. Estão desabrigados e neste momento estão no pavilhão, no parque do Imigrante. Cortou-me a alma segurar Gabriel em meus braços. Olhei em seus olhos de bebê, sob a guarda vigilante de sua mãe. Gabriel não entende o que acontece. Mas seus pais sim. Têm bolivianos, também. Tem gente do Bangladesh, pequeno país muito pobre perto da Índia. Lajeado está multicultural.
Os pais de Gabriel são sobreviventes de um dos maiores desastres que a humanidade já viveu: um terremoto que matou mais de 200 mil pessoas e destruiu um país que já era muito pobre. Não há esperanças por lá e isto faz com que muitos saiam de lá em busca de um sonho. Ganham algo em torno do salário mínimo aqui e mandam parte do seu salário para sua terra natal, para matar a fome dos que ficaram. Entre o trabalho árduo, a saudade dos seus, e o viver em um lugar em que se fala uma língua estranha persistem.
Acompanhei um grupo esta tarde que se preocupava com sua situação. Flagelados, buscavam saber como fariam, já que não tinham como saber como fazer para trabalhar na segunda-feira. Perderiam os benefícios? Como se chega do abrigo até a fábrica? Como compreender o que se explica na língua mal compreendida?

Vivenciei uma poção de coisas e me emocionei um par de vezes. Fico pensando na felicidade que é ter uma família e certa estabilidade na vida. E fico pensando como é dura a vida de Gabriel, que recém nasceu e já está enfrentando toda sorte de desafios. Ele e seus pais. E todos aqueles que de alguma forma sobrevivem a cada dia, a cada hora. A próxima refeição é a conquista máxima... Que Deus ajude Gabriel. Que possamos, de alguma forma, amparar os bolivianos, bangladeshianos, haitianos, brasileiros, e todos os seres humanos em risco. Precisamos nos lembrar: nossa missão humana nada mais é do que promover a vida, acolher aquele que sofre, estender os braços. Me emocionei com o presente que recebi hoje: um abraço de conforto de Gabriel, nos seus inocentes seis meses de vida. Me sinto mais humano a partir de hoje, ainda consigo me emocionar...

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