terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Incerta


E então, dentre nuvens pesadas que despejam lágrimas, numa primavera qualquer, vidas se entrecruzam no ir e vir, no movimento monótono da chuva leve.
Na alma em peso, o fardo duro de dias duros, no caminhar em direção incerta, rumo a sombra do por do Sol. E, assim, sobrevive...

Uma brisa no rosto


E aí você olha para o horizonte e percebe que aquele pôr do Sol que inebria a alma está lá
à espreita
e as coisas boas da vida, tão boas, te deixam mais leve
e te fazem vagar de um lugar a outro, sem rumo
em busca de algo mais, um sopro, um brilho, um grito
e ao inspirar profundamente
Você se dá conta de tudo, e a verdade aparece,
do sonho ao sono à vida
...
raios de luz, janela adentro, despertar

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

MUDAR O CAPS ALCOOL E OUTRAS DROGAS DE LUGAR RESOLVERÁ O QUÊ, AFINAL?

Qual a sociedade ideal, nossa utopia? Famílias equilibradas, todos trabalhadores, sem violência alguma, sem droga, álcool, cigarro, corrupção. Todos puxando a corda para o mesmo lado, respeitando as diferenças e se esforçando para que elas diminuam. Que todas pessoas com deficiência tenham as mesmas condições de todos nós. Uma sociedade sem corrupção, agressões, assédios e afins. Se este é o “ideal”, havemos de convir que estamos longe disso.

Pois bem, não vivemos no mundo ideal. Temos inúmeras imperfeições dentro de todos os espaços, desde as famílias, ambientes de trabalho, instituições, na rua, nos espaços públicos. É repetitivo reafirmar tudo que vimos de ruim a nossa volta, nestes dias difíceis. É natural, portanto, que o cidadão comum queira se livrar de tudo que lhe choca, que causa desconforto em nossa sociedade.

Historicamente a humanidade faz isso, afinal: para o doente, ameaça de contágio, o hospital; para o delinquente, ameaça à segurança, o presídio; para o ‘louco’, pretensa ameaça, o hospício. Vigiar e punir a diferença, como pontua Foucault em sua obra. Tira-se da frente dos olhos tudo aquilo que parece ser uma ameaça. Daí que a pessoa em sofrimento psíquico, usuária de entorpecentes, por exemplo, nos deixa desconfortáveis. Afinal, escancaram nossa fragilidade, nossa incapacidade de sermos eternos “cidadãos perfeitos”, ou “do bem”, como pontuam alguns.

Enquanto sociedade melhoramos nas últimas décadas, reconhecendo e incluindo os “diferentes”. Surgiram APAE´s, CAPS, residenciais terapêuticas, entre outros espaços. Hospícios perderam espaço. Como nada na vida, não há consenso e, é de se entender que alguns continuam com a ideia de que a melhor medida é “sumir” com os usuários de drogas, por exemplo. É por aí que tento entender a reação contra o CAPS Álcool e outras drogas “Sim pra Vida”, localizado na rua Santos Filho, no centro de Lajeado.

O usuário de drogas presente nesta rua, ou na Júlio, no Parque dos Dick, na praça da Matriz ou outros pontos da cidade incomodam parte da sociedade por que isto escancara o fato que não estamos no mundo perfeito, que não somos todos iguais, somos portadores de doenças, de fraquezas, imperfeições. O caso escancara que dentro de nossas famílias, sejam pobres ou ricas, de qualquer etnia, temos pessoas doentes usuárias de drogas, sejam lícitas ou ilícitas e isto é uma coisa extremamente difícil de aceitar.

O movimento da saúde mental vem lutando pela inclusão do portador de sofrimento psíquico há muitos anos. Profissionais, pais, amigos, o doente, seguem numa jornada dura, buscando reconhecimento frente a intolerância. Transferir os problemas para longe dos olhos não resolve. Colocar o CAPS em algum lugar distante do centro não vai diminuir o número de usuários, não vai aliviar a consciência social e, ao fim e ao cabo, só reproduz táticas antigas que a maioria da sociedade condena. A solução? Aceitemos nossa condição de sociedade que precisa de mais tolerância, que deve reconhecer seus problemas e enfrenta-los, resgatando a humanidade em nossos atos.




terça-feira, 16 de junho de 2015

Múltiplas formas: poesia da esperança


Me deu agora uma vontade de reescrever a história,
E colocar o mundo sobre outros trilhos, mais humanos
Solidariedade guiando os rumos de todos nós, de todas as etnias
Sem geografias que afastam, sem o ir e vir frenético,
A busca indecente por renda, economia, coisas concretas e duras
E o sentimento de que talvez haja um vácuo nisso tudo, uma falta de razão
Sem saída, destino, capacidade de perceber o mundo de múltiplas formas
E se achegar ombro a ombro num ato de fé na humanidade,
De acreditar nos olhos inocentes
Ou nem tanto
Mas acima de tudo acreditar que é possível
Um outro mundo é possível.

terça-feira, 9 de junho de 2015

O Papel Social do Fisioterapeuta

(texto originalmente publicado em 12/10/2003 no jornal O Informativo do Vale... direto do túnel do tempo)

O Brasil, e o mundo, precisam trazer para condições de vida satisfatórias um grande contingente de pessoas. Não cabe listar tudo que ainda aflige a humanidade. No entanto, permitam que lembre que ainda vivemos uma grande ‘guerra’. Em alguns lugares a guerra é real, batalhas e mortes. Noutros, a guerra é contra a fome, as doenças, a pobreza, a miséria, a corrupção. Neste contexto, todos seres humanos conscientes da dificuldade que passamos precisam dar sua parcela de contribuição. Devemos, de uma forma ou outra, trazer um pouco mais de paz ao mundo. E é aí que cada um de nós pode fazer sua parte, cada um conforme a sua capacidade.

Na área da saúde, onde existe mais de uma dezena de profissões legalmente regulamentadas, milito na Fisioterapia, já há quase dez anos após a formatura. Somos mais de 45 mil em todo Brasil. Dia 13 de outubro é o Dia do Fisioterapeuta, aniversário da lei que regulamentou a profissão, em 1969. A Fisioterapia surgiu exatamente em função da guerra e, ao longo do tempo, especializou-se em trabalhar na reabilitação do número enorme de pessoas mutiladas pela estupidez da violência. 

Hoje, o Fisioterapeuta ampliou muito seu leque de trabalho, estando engajado na integralidade da atenção à saúde, desde a promoção e prevenção, a assistência, a reabilitação, a pesquisa, a educação em saúde e a gestão. Participamos ativamente do sistema e buscamos ainda a melhor forma de interferir positivamente. É certo que nossa ação, como profissão, ainda é tímida na participação e controle social, visto que ainda não são todos os que participam dos fóruns de decisão, como os conselhos e conferências de saúde.

De qualquer forma, tal qual as outras profissões de saúde, os Fisioterapeutas tem o poder do seu conhecimento específico e a oportunidade de contribuir nas mudanças necessárias. Treze de outubro, o Dia do Fisioterapeuta, é uma data significativa para nossa profissão. Lembrar-se das dificuldades iniciais, das conquistas e derrotas, dos avanços é uma forma de avançarmos todos como sociedade. 

sábado, 23 de maio de 2015

SAMU do Vale do Taquari: números comprovam sua alta relevância e por isso precisa ser preservado

O Serviço de Assistência Médica de Urgência (SAMU), existe no Vale do Taquari desde 2011. Temos Suporte Básico (SB) em Lajeado, Estrela, Teutônia, Encantado e Arvorezinha, e uma unidade de Suporte Avançado (SA), em Lajeado. Os municípios delegaram ao CONSISA (Consórcio Intermunicipal de Saúde) a gestão do SAMU, sendo que o recurso para custeio vem em parte do Governo Federal, outra parte do Governo do Estado e há contrapartida dos municípios participantes.

Atualmente a receita para financiamento do SAMU, segundo dados do CONSISA, gira em torno de R$ 313 mil mensais, dos quais R$ 66 mil são bancados pelos municípios, R$ 141 mil pelo estado e R$ 106 mil pela União. A despesa supera este valor, o que significa que qualquer atraso deixa o CONSISA e os municípios em apuros financeiros no custeio das unidades, sem recursos para folha de pagamentos ou manutenção de veículos. 

Pois, na atualidade os municípios/CONSISA tem a receber mais de R$ 470 mil do governo do estado, valores referentes aos meses de out/nov/dez de 2014. Esta conta está em aberto, colocando em risco a regularidade dos atendimentos.

Talvez alguém pense que o SAMU não é importante, que ele poderia ser dispensado. Alguns números para provar que não. O SAMU realizou em 2011 um total de 4.325 atendimentos na região. Em 2012 o número foi de 4.703, 2013 foral 4.808 chamados e em 2014 alcançou-se um total de 5.499 atendimentos. Levando em conta apenas este último ano, temos uma média de 458 pessoas socorridas por mês. Não é pouca coisa, muito pelo contrário, para a maioria destes cidadãos o SAMU foi imprescindível para o resgate e sobrevida. As viaturas, até o momento, rodaram 497.282 quilômetros neste tempo, o que dá mais de 10 voltas ao mundo, correndo em direção do socorro imediato.

A Secretaria de Saúde de Lajeado, como uma das mantenedoras do serviço, se orgulha do serviço prestado e se preocupa com sua continuidade. Precisamos resgatar os recursos em atraso, pois são fundamentais para manter a qualidade. Por isso os R$ 470 mil devidos pelo estado não são perfumaria; é recurso devido por serviço prestado e rogamos ao estado que cumpra com sua obrigação federativa.


Como manter serviços de saúde com milhões por receber?

Que a situação econômica é crítica e que todas as esferas de governo enfrentam problemas, há esta altura dos acontecimentos todos já sabem. Que as necessidades da população por serviços de saúde competentes, resolutivos, em todas as faixas etárias, é a realidade que se impõe. Que a saúde tem custos, quais passam por pagamento de recursos humanos, compra de medicamentos e insumos de uso diário, manutenção de veículos e estruturas, pagamento de luz, água, telefone, etc., todos deveriam saber. Que tudo isso é um problema que impacta a qualidade de vida de todos nós, é a mais dura verdade.

Pois bem, ao fim e ao cabo quem paga a pressão por manter um certo nível assistencial é o município e seus parceiros locais. Agora, como manter serviços de saúde quando o recurso de custeio não chega? Imagine, leitor, o final do mês e o direito de receber um salário e o patrão simplesmente diz: “devo, não nego, mas pagarei quando puder”. Como fica para pagar as contas do dia a dia? É exatamente esta a situação que vivemos hoje. Vamos aos números.

O município de Lajeado, apenas em direitos, tem a receber do estado do Rio Grande do Sul, o valor de R$ 1.016.313,00 referentes ainda a 2014. São R$ 171.439,14 do Piso estatual da atenção básica em saúde, R$ 121.243,93 da atenção farmacêutica básica, R$ 393.424,90 referentes a estratégia de saúde da família, R$ 17.025,00 da assistência odontológica, R$ 13.500,00 do programa primeira infância melhor e R$ 298.680,00 do atendimento em saúde mental nos CAPS.

Para piorar, nosso SAMU, mantido pelos municípios por meio do CONSISA corre sérios riscos, já que há uma dívida do estado de R$ 300.696,27. Os municípios que têm base instalada já foram chamados pelo CONSISA para reunião visando discutir o futuro próximo. Há risco de parar? Tudo é possível, já que não há como manter os custos sem dinheiro. Ou há? Para finalizar, o Hospital Bruno Born, parceiro importante para nossa rede de saúde, tem a receber do estado, pelo menos R$ 709.654,30 de incentivos (IHOSP, gestação de alto risco, saúde mental, entre outros), sem contar débitos antigos referentes a processos administrativos em que se pede o pagamento de serviços já prestados.


Não podemos mascarar a realidade. Reafirmo: quem paga a pressão é o município e seus gestores. Em última instância, quem sofre é a população, que corre o risco da desassistência. Todos os serviços e custeios são fundamentais e uma vez que o direito é conquistado, faça-se que se cumpra. Mas, para tanto, o pacto federativo deve ser cumprido e honrado e, no caso da saúde, é dever da União e do Estado financiar parte daquilo que acontece no município. 

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Dia D Municipal: em defesa da atenção básica e do atendimento ambulatorial e hospitalar

(Texto publicado no jornal A Hora, 06/5, p.02)

A Saúde Pública de Lajeado vem sendo construída coletivamente há muitos anos. Alcançou, com isto, um patamar invejável, atendendo com segurança a maior parte das situações do dia a dia, fazendo promoção, prevenindo doenças, tratando e reabilitando. É certo que ainda temos muito a avançar, mas em Lajeado temos um SUS que dá certo, na maior parte do tempo. Isto denota esforço, diálogo, paciência e investimentos.
Em 2012 e 2013, a aplicação de recursos orçamentários foi na ordem de 19% em saúde. Em 2014, o percentual saltou para 25% da receita tributária líquida. Municipalizar a saúde na gestão plena foi um acerto, que trouxe capacidade para Lajeado, mas ao mesmo tempo impõe uma série de responsabilidades que são insuportáveis se não houver o repasse regular de recursos dos parceiros federal e estadual. E é justamente isto que nos preocupa. Tanto no projeto UPA, quanto no financiamento da atenção básica, temos vivido momentos de incerteza que colocam em risco todo o sistema montado.
Do governo estadual o município tem a receber mais de R$ 700 mil de saldos de 2014. O governo estadual não nega o débito, mas não acena com o repasse. "Devo, não nego, mas pago quando puder (ou quiser)". Está bem, o governo do estado não tem dinheiro. Mas como fica o município? Quais as ações que devem ser suspensas? Quais as pessoas que deveremos dizer que não serão atendidas por que os débitos estaduais não serão quitados?
Para se ter uma ideia, este valor em haver corresponde a todo o custo de medicamentos de meio ano, em toda rede. Como a população reagiria se disséssemos: "pelos próximos seis meses não haverá nenhum medicamento nos postos de saúde". Eu sei, parece terrorismo afirmar tal acinte; mas é exatamente este tipo de dificuldade que nos coloca no brete daqui por diante.
O Hospital Bruno Born e os demais hospitais da região vivem drama parecido. Manter serviços, continuar a atender, curar e reabilitar para a vida, como? É preciso olhar para trás e reconhecer que a maioria dos hospitais, e municípios, investiram nos últimos anos, ampliando a oferta de serviços. Isto representa custo, e manter estas estruturas deveria ser a prioridade número um num estado que preza pelo seu povo. Este é o nosso drama, gestores da saúde. E deveria ser o objetivo fundamental de nossa sociedade. Por isso a hora do alerta é agora.