quinta-feira, 16 de maio de 2013

Quando os olhos veem o coração não ignora


Tem uma frase comum que se diz com certa frequência e que é assim: “o que os olhos não veem o coração não sente”. Pois, por muito tempo, na nossa sociedade, tudo que era tocante ao coração, que fazia sofrer de alguma forma, nós tratávamos de tirar do alcance dos olhos. Se lermos a Bíblia, na época de Cristo, isto ocorria com os leprosos, com os lunáticos, as prostitutas, entre outros. Desde aqueles tempos os diferentes eram subjugados a um segundo plano, não faziam parte da sociedade e, como tal, não podiam conviver livremente entre os “bons”.

Muitos séculos se passaram até termos a esperança de que alguma coisa mudasse, de fato. Na idade moderna continuamos a excluir os diferentes, os “anormais”, os loucos, os doentes, os marginais, enfim, todos aqueles que não compartilham do padrão de “cidadão ideal”. Surgiram os hospícios, os presídios, os hospitais, instituições totalitárias nas quais o interno não tem poder sobre si mesmo. E, neste contexto, muitos abusos foram cometidos, muitas crueldades, muita gente morreu ou foi excluída do convívio do mundo, para sempre.

É recente a luta por mudar esta crueldade, coisa de algumas poucas décadas. No caso do portador de sofrimento psíquico, do “louco”, não mais do que uns trinta anos. A Semana da Luta Antimanicomial, em andamento, é o período do ano em que marcamos esse momento, o fim da expansão dos manicômios/hospícios, nos quais sumiam as almas daqueles desafortunados que, por algum motivo, internavam neste lugar. Eletrochoques, camisas de força, excesso de medicamentos, violação de qualquer direito era a prática.

Nesta segunda-feira ocorreu um ato simbólico em Lajeado, no qual usuários dos CAPS, trabalhadores da saúde, estagiários da Univates, familiares, ocuparam por cerca de meia hora a nossa Rua Júlio de Castilhos. A intenção não é tumultuar o trânsito. Pelo contrário, os fiscais do trânsito fizeram um trabalho magnífico e nada de anormal aconteceu. O objetivo do ato foi colocar à frente dos olhos de todo mundo, para que o coração se mantenha saudável, se importe, não endureça na indiferença que ainda campeia por nossos tempos. Alcançamos os objetivos? Sim e não. São tempos de alegrias, pois muitos aplaudiram. Mas, é também um tempo triste, no qual muitos viram a cara, não se importam, excluem, subjugam, se aproveitam do outro. Mas, é tempo de esperanças também, visto que a arte da vida se faz na vida do portador de sofrimento psíquico e há muitos dispostos a ajudar nesta tarefa de cada dia. 

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