sexta-feira, 25 de junho de 2010

Contra o paradigma?

 Milito no campo da saúde. Minha trajetória iniciou-se em 1988, quando da inscrição no vestibular. Minha escolha, a Fisioterapia. Uma escolha de momento, no ato, a partir de um interesse específico: a saúde e a atividade física. Pronto, estava decidido.

A Fisioterapia está, historicamente, carregada de tecnicismo. É uma crítica que considero adequada, tendo em vista estar ela direcionada para a assistência a saúde, digo, ao doente. Atende-se à patologia e recuperam-se funções para o trabalho e para a vida. Leva-se conforto. Diminuem-se sofrimentos. Perceba-se que o meu discurso está envolto no paradigma dominante: estabelecer o diagnóstico, tratar da terapêutica. Esta é a minha formação acadêmica inicial.

O decurso da minha trajetória redefiniu meus horizontes. Hoje milito na saúde coletiva e leciono disciplinas da Fisioterapia e de outros cursos da saúde. Disciplinas que podem rediscutir as práticas... Contra o tecnicismo. Repensa o tecnicismo. Um desafio, portanto. Um desafio que começa em mim, pois me reinvento no discurso. Uma obra inacabada.

Uma transição que se processa em sala de aula. É a construção viva de novas concepções acerca da saúde em ato. Desafio-me permanentemente a desafiar o lugar comum no pensar das práticas em saúde. No papel de docente penso que devo ser mais que docente; devo ampliar a perspectiva e ser educador, desenvolvendo outras qualidades que ultrapassam aquilo que eu mesmo vivi dentro da minha formação acadêmica inicial. Reitera-se o desafio. Um auto-flagelo imputado. Uma permanente vigilância sobre as palavras e pensamentos, sobre o discurso.

Por óbvio, imagino parcela importante dos acadêmicos incomodados na afronta. Mudar o paradigma, contrapor o paradigma é quebrar. É fazer ver por outros ângulos, mesmo que não queira. E, não necessariamente, as pessoas estão dispostas a quebrar visões de mundo construídas ao longo de suas vidas.

Na experiência vivida percebo alguns sucessos e muitos fracassos. Navegar contra a correnteza é um exercício de força, que cansa. Muitos acadêmicos não entendem a proposta, preferem a aula 'tradicional', expositiva, com materiais claramente definidos e com os 'conteúdos' explícitos e direcionados para o que é 'importante para o exercício da profissão: a técnica'.

Há de se reconhecer que enfrentar o paradigma requer qualidades. O educador em saúde, o docente, o professor, não é um mero repassador de conteúdos. E a estrutura curricular nem sempre ajuda. Os elementos externos à sala de aula exercem certa pressão sobre a relação do educador com o acadêmico. E não é, via de regra, uma pressão pequena, suportável. Pelo contrário.

Qual a saída? Persistir, qualificar as práticas docentes, rediscutir permanentemente os papeis atribuídos aos agentes envolvidos no processo de aprendizagem. Aglutinar fortes para contrapor o paradigma reproducionista que reduz a discussão, o debate, a construção do pensamento crítico no âmbito das profissões da saúde. Fácil? Nada.


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